Nossa Opinião Sobre os Protestos no Brasil no Fórum de Debate do The New York Times
Clique aqui para o artigo original em inglês publicado no the New York Times Room for Debate Forum em 19 de junho de 2013. Ou aqui para a resposta completa no RioOnWatch (Inglês).
É apenas o começo, a mudança virá ao Brasil
A Diretora Executiva da ComCat, Theresa Williamson, foi convidada a participar do fórum de debate do The New York Times sobre os protestos em todo o Brasil. Veja aqui a tradução da matéria do debate:
Apesar das melhorias no crescimento econômico e a redução da desigualdade dos últimos anos, o Brasil sofre com serviços públicos terrivelmente ineficientes, graças à corrupção e à falta de vontade política para priorizar sua entrega adequada. Transporte, educação e saúde são lamentavelmente inadequados. Por exemplo, embora o Brasil gaste 5,7% do PIB em educação, dois terços dos brasileiros, com 15 anos de idade, são incapazes de ir além da aritmética básica. O Brasil gasta cerca de 9% do PIB com a saúde, mas tem uma classificação menor do que economias comparáveis na América Latina quanto a mortalidade infantil, expectativa de vida e uma série de outros indicadores. Tudo isso enquanto gastamos R$40 bilhões com a Copa do Mundo, mais do que as últimas três Copas do Mundo juntas.
Já estamos vendo uma mudança na retórica dos políticos e dos principais meios de comunicação brasileiros, que há muito tempo ignoram a frustração que sempre esteve claramente presente.
O transporte tem sido a bandeira desse movimento, o que faz todo sentido. O transporte representa a mobilidade, no seu sentido mais literal. Rio e São Paulo têm algumas das maiores tarifas de ônibus do mundo.
O maior protesto até agora foi nesta segunda-feira no Rio de Janeiro onde o grave mau uso de recursos em preparação para a Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016 é abundante. Pelo menos R$54 bilhões serão gastos nas Olimpíadas, todos no Rio de Janeiro. O “plano” das autoridades da Prefeitura é aproveitar os mega-eventos para instituir políticas sob o pretexto de “integração” e “redução da pobreza”. Na realidade, eles estão alimentando a expulsão de grupos de baixa renda da cidade, especialmente os moradores das favelas, para a periferia urbana. Muitas dessas favelas são bairros prósperos que há décadas fornecem às pessoas habitação acessível localizada em áreas centrais.
Felizmente chegamos à última gota. E, graças às mídias sociais–o Brasil é o segundo maior usuário do mundo, de ambos Facebook e Twitter–e ao fato desses protestos serem descentralizados, sem qualquer vínculo com partidos políticos, e ao Brasil ser, apesar de suas dores de crescimento, uma democracia, os protestos irão se intensificar e persistir.
Já estamos vendo uma mudança na retórica dos políticos (após consulta com marqueteiros) e dos principais meios de comunicação brasileiros, que há muito tempo ignoraram a inquietação e a frustração que sempre esteve claramente presente. Mesmo os meios de comunicação tradicionalmente conservadores estão sendo obrigados a cobrir os protestos. Isto faz com que um grande segmento da população conheça as reais motivações e a natureza pacífica dos manifestantes.
No dia 19 de junho, em resposta aos protestos, um vereador no Rio de Janeiro entrou com um pedido de investigação parlamentar (CPI) sobre a máfia de ônibus no Rio de Janeiro e, no final do dia, Rio e São Paulo anunciaram a redução das tarifas de ônibus. Somaram-se a pelo menos outras seis cidades que reduziram as suas tarifas. No entanto, não é provável que os protestos diminuam. O povo agora sentiu o gosto da democracia direta e não haverá volta.