Oficina sobre Gentrificação no Vidigal
Na manhã do dia 30 de novembro de 2013, a Comunidades Catalisadoras e a Associação de Moradores do Vidigal, realizaram uma oficina que reuniu vinte e cinco moradores do Vidigal para discutir a transformação em andamento que está ocorrendo dentro da comunidade a partir de uma força externa: a gentrificação.
Embora o Vidigal tenha historicamente recebido famílias de todas as partes do Brasil que migram para a cidade, o presente influxo de residentes temporários, a maioria dos quais são estrangeiros, está contribuindo para um aumento indesejável nos preços de aluguel para os atuais inquilinos. A localização privilegiada do Vidigal, com vista direta para o mar e em estreita proximidade com os bairros à beira-mar do Leblon e Ipanema, é uma razão para esta tendência, atraindo especuladores imobiliários que desejam capitalizar esta oportunidade, potencialmente lucrativa, em uma cidade cada vez mais cara que está prestes a sediar dois eventos esportivos internacionais.
Moradores presentes na oficina tinham vários medos e preocupações, desde inquilinos preocupados com a alta dos aluguéis a proprietários encontrando dificuldades para pagar o aumento dos custos de serviços públicos associados aos investimentos públicos na região. Outros expressaram preocupação com a erosão da vitalidade cultural da comunidade e da sua identidade. Outros ainda manifestaram que já não se sentem tão seguros na presença de tantas pessoas novas em sua vizinhança. A oficina teve três objetivos: apresentar uma compreensão contextualizada de gentrificação usando exemplos internacionais; discutir como a gentrificação já está afetando o Vidigal; e desenvolver estratégias e idéias de como a comunidade pode responder e tomar posse desse processo.
Ao introduzir o tema gentrificação, Theresa Williamson da Comunidades Catalisadoras explicou que muitas vezes os pesquisadores sugerem que há aspectos positivos e negativos de tais mudanças que ocorrem em bairros de baixa renda em todo o mundo. Num primeiro momento, a chegada de novos moradores mais abastados, podem levar à melhoria dos serviços e infra-estrutura. Junto com tais mudanças, no entanto, vem o aumento dos preços, a perda da identidade cultural, e também a chegada de novos estabelecimentos como restaurantes e bares que os moradores locais não podem pagar ou no qual não se vêem refletidos.
Concentrando-se no Rio especificamente, Williamson demonstrou como o governo tem feito um esforço combinado, por meio de campanhas publicitárias e de marketing, para incentivar o investimento internacional na cidade. A mídia global também tem desempenhado o seu papel na comunicação dos aumentos de preços que ocorrem em várias favelas, muitas vezes, sugerindo isso como uma tendência favorável. Em um caso particular, um jornalista do Financial Times foi tão longe, que incluiu um “Guia de compra” para incentivar o investimento imobiliário em favelas por compradores internacionais.
Em seguida, moradores compartilharam histórias de como as pessoas no Vidigal estão começando a vender suas casas para os especuladores porque estão tentados pela aparente grande soma de dinheiro que está sendo oferecida, apesar de não percebem plenamente o valor de sua propriedade, e o impacto que a mudança com sua família da comunidade vai causar nas suas vidas. Algumas histórias foram contadas de como as pessoas acabam se mudando para condomínios acessíveis localizados na periferia urbana, aonde não existe união comunitária com a qual eles estão acostumados e, além disso, são obrigados a passar horas deslocando-se para o trabalho.
Moradores identificaram os aspectos de sua comunidade que eles nunca gostariam de perder, incluindo a cultura local, o senso de comunidade e de identidade, entre outros. Um morador perguntou: “O que será Vidigal em 2016, e quem será o seu povo?” Os moradores manifestaram ansiedade sobre a perda de partes de sua comunidade e de sua identidade compartilhada com as pessoas de fora nos próximos anos. Outro morador ecoou esse sentimento: “Culturalmente, o que será de Vidigal?”.
Como essas preocupações continuaram a ser expressadas, a oficina transitou para uma discussão de idéias sobre possíveis passos e ações, a fim de assumir o comando desta onda inicial de gentrificação. Uma idéia popular foi a de desenvolver ainda mais as estadias em casas através de “albergues da comunidade”, onde os moradores lucrariam com os visitantes ficando em um dos seus quartos. Outra sugestão foi a realização de uma manifestação pacífica do lado de fora do hotel cinco estrelas que está em construção na parte superior do Vidigal. Além disso, foi discutida a importância da educação financeira, como forma de preparar os moradores que podem ser abordados por especuladores imobiliários ou que estão lidando com o aumento dos serviços públicos. Finalmente, foi abordada a possibilidade de organizar a Associação de Vidigal como um “Fundo de Posse Coletiva”.
A necessidade mais urgente, porém, foi a criação de uma forte rede de moradores informados sobre a gentrificação e especulação imobiliária no Vidigal unidos na defesa de sua comunidade. No final da oficina, os moradores planejaram outro evento para 07 de janeiro de 2014, em uma praça pública localizada na entrada do Vidigal, para sensibilizar e promover a discussão do tema na comunidade. Rosa, uma das organizadoras do evento, explicou por que ela apoia as oficinas: “Para que as pessoas que viveram aqui possam ter a sua voz! Não, eu não vou sair daqui”. O clima no final do dia foi de preocupação e otimismo, com todos reconhecendo que há trabalho a ser feito para defender e preservar o Vidigal e com novas idéias sobre como isso pode acontecer.
Texto de Andrew Lindsay. Fotos por Patrick Isensee.