LANÇAMENTO: Comunidades Catalisadoras Lança Relatório Final de Pesquisa “Favelas na Mídia”
Dezembro de 2016–O estudo longitudinal da organização sem fins lucrativos Comunidades Catalisadoras sobre a cobertura internacional da mídia sobre as favelas do Rio no período de preparação e durante as Olimpíadas de 2016 será lançado e apresentado na Casa Pública, no Rio de Janeiro, na quinta-feira 15 de dezembro.
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O relatório, intitulado “Favelas na Mídia: Como a Vinda da Imprensa Global na Era dos Megaeventos Transformou a Imagem das Favelas”, analisa como oito dos principais canais de notícias em língua inglesa informaram sobre as favelas do Rio desde outubro de 2008—um ano antes das Olimpíadas serem concedidas ao Rio—até o mês Olímpico de agosto de 2016. Analisamos todos os 1.094 artigos do The New York Times, The Wall Street Journal, USA Today, The Guardian, The Daily Mail, The Telegraph, Associated Press e Al Jazeera que mencionaram as favelas durante esse período. Uma versão preliminar deste relatório foi publicada em 2015. O relatório final completo será lançado na quinta-feira, 15 de dezembro, das 18h às 19h, na Casa Pública (Rua Dona Mariana, 81, Botafogo, Rio de Janeiro), um centro de jornalismo investigativo no Rio de Janeiro. O relatório final será disponibilizado em nosso site nesta sexta-feira.
No painel de lançamento de quinta-feira, Theresa Williamson, da ComCat, irá apresentar os resultados, junto com o mídia-ativista Raull Santiago, do Coletivo Papo Reto, do Complexo do Alemão; o jornalista comunitário Michel Silva, do jornal Fala Roça, da Rocinha, e colaborador do The Guardian; a ativista comunitária e representante do Museu das Remoções, Sandra Maria, da Vila Autódromo; o correspondente internacional do jornal The Washington Post, Dom Phillips; e o pesquisador de mídia-ativismo de favela, Leonardo Custódio. Todos irão apresentar sua opinião sobre o papel da mídia internacional na cobertura das favelas do Rio, nos anos de preparação dos Jogos Olímpicos.
Sem surpresas, devido ao destaque excepcional na mídia global gerado pelos megaeventos, as favelas historicamente estigmatizadas do Rio receberam níveis de atenção sem precedentes durante esse período. Nossos resultados demonstram que, embora a cobertura tradicional das favelas tenha crescido dramaticamente e que os aspectos negativos das favelas continuaram em primeiro plano, a crescente diversidade e o número de matérias que exploram essas comunidades proporcionaram espaços mais destacados para as vozes dos moradores e histórias positivas.
Para a coordenadora de pesquisa da ComCat encarregada desse estudo, Cerianne Robertson, esse crescimento e a maior diversidade de matérias sobre as favelas podem fazer uma enorme diferença:
“Não é que as matérias fortemente estigmatizantes tenham desaparecido ou mesmo diminuído durante esse período. As matérias em 2016 ainda incluíam algumas descrições muito superficiais que apresentavam as favelas como um cenário de terror e desesperança. Mas com tanta demanda de mídia por histórias sobre as favelas, até agosto de 2016, vimos mais coberturas sobre as favelas, mais entrevistas com os moradores das favelas, e, no geral, mais espaço para as diferentes imagens das favelas como comunidades e centros de cultura e mudança social, e não apenas como locais de violência.”
Achados chaves
Observações gerais
- A mudança mais significativa na cobertura internacional das favelas do Rio nos últimos oito anos é a imensa expansão da cobertura. Houve quase sete vezes mais matérias publicadas em 2015-2016 do que em 2008-2009. O mês de agosto de 2016 foi responsável por 14% de todos as matérias no conjunto de dados.
Out 2008-Set 2009 | Out 2009-Set 2010 | Out 2010-Set 2011 | Out 2011-Set 2012 | Out 2012-Set 2013 | Out 2013-Set 2014 | Out 2014-Set 2015 | Out 2015-Ago 2016 | TOTAL | |
Matérias por ano | 45 | 77 | 83 | 79 | 141 | 224 | 130 | 315 | 1094 |
- Durante a Copa do Mundo, quando jornalistas davam informações sobre eventos em todo o país, o acesso relativamente fácil à Rocinha, na Zona Sul, atraiu uma cobertura desproporcional; nas Olimpíadas, quando os jornalistas internacionais focaram na cidade do Rio de Janeiro, onde as Olimpíadas aconteceram em várias zonas, a cobertura se espalhou pela cidade, especialmente para o Complexo do Alemão e o Complexo da Maré, na Zona Norte, e a Cidade de Deus, na Zona Oeste.
Tendências problemáticas
- “Slum” (bairro sórdido) é a palavra mais usada como alternativa geral e primária, seguida de “shantytown” (bairro de barracos temporários) e “community” (comunidade).
- Nas matérias onde as favelas eram o assunto principal, “violência ou drogas” era o tópico mais frequente mencionado seguido por “polícia” e “pacificação”.
- “Locais de violência” e “locais de drogas/gangues” eram os atributos mais comumente retratados das favelas. Tanto no ano da Copa do Mundo como no ano das Olimpíadas, a porcentagem de matérias que retrataram as favelas como locais de violência e locais de atividade de drogas/gangues aumentou em comparação aos anos anteriores.
- O traço mais comum atribuído aos moradores das favelas foi “financeiramente pobre”.
- Quase 46% das matérias apresentou retratos massivamente negativos de favelas, o que corresponde ao alto número de matérias focadas na violência e na atividade de drogas/gangues nestas comunidades. Uma porcentagem um pouco menor (44%), foi neutra, ao passo que somente 7% foram massivamente positivos sobre as favelas. Cerca de 4% das matérias sugeriram que a pacificação tornava as favelas locais melhores. Estes índices não mudaram significativamente com o tempo.
Padrões Positivos
- Os moradores de favelas foram mencionados diretamente em 112 artigos (36%) em 2015-2016, e somente em 7 artigos (16%) em 2008-2009, marcando um aumento de 16 vezes na visibilidade das vozes das favelas. No mês de agosto de 2016, especialmente, houve uma porcentagem ainda mais alta de matérias que deram espaço à vozes das favelas.
- O uso de alternativas mais neutras para favela como “community ” (comunidade) e “neighborhood” (bairro) aumentou com o tempo e são usadas mais frequentemente como alternativa primária para definir “favela” nos últimos anos.
- Em termos de quem as matérias retrataram como violentos, houve um aumento nas matérias que retrataram apenas a polícia como violenta. Isto demonstra uma atenção crescente para as taxas imensamente altas de mortes por policiais no Rio e no Brasil como uma história interessante em si.
- Houve um aumento pequeno, ao longo do tempo, na porcentagem de matérias apresentando tópicos positivos como mídia comunitária e projetos sociais comunitários.
- O atributo positivo mais comumente retratado foi que as favelas são uma “fonte de cultura”. Houve também um aumento positivo gradual na porcentagem de matérias que explicitamente retrataram as favelas como tendo um forte “sentido de comunidade”.
- Os moradores foram comumente retratados como “agentes ativos da mudança” e “empreendedores” e não como “infelizes, desesperados ou miseráveis”.
Jornalismo da favela como modelo?
- Dezessete matérias foram escritas individualmente ou em conjunto por moradores das favelas. Apesar de ainda cobrir regularmente “violência ou drogas”, “pacificação”, e “polícia”, os autores moradores de favelas cobriram tópicos mais diversos do que a média de matérias no conjunto de dados em geral. Nenhuma das matérias de autores de favelas retratou os moradores como os únicos perpetradores da violência, enquanto todos as dezessete matérias mencionaram o nome da favela. Os autores de favelas preferiram “comunidade” e “bairro” para descrever os seus lares e somente um dos artigos usou “favela”. E mesmo as favelas sendo frequentemente retratadas como “locais de violência”, eram mais frequentemente retratadas como “lugares com um sentido de comunidade”.
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