29/09—Justiça climática e crise hídrica: reflexos da desigualdade em um cenário de escassez

Vivemos a pior escassez de chuvas no Brasil em 90 anos. O atual declínio pluviométrico sucede à seca verificada entre outubro de 2020 e abril 2021 e precede novo período de estiagem, previsto para ocorrer entre outubro de 2021 e abril de 2022, com possibilidade de recorde negativo. Ou seja: o cenário, que já era preocupante, piorou e deve agravar-se ainda mais. Se esta progressão da crise hídrica é evidência explícita da mudança climática em escala global, no Brasil ela traz impactos significativos especialmente na economia, devido à natureza de nossa matriz energética, 60% dependente de hidrelétricas.

O governo federal, por meio da Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética (CREG), criada para a gestão da crise atual, anunciou recentemente a aplicação de uma nova bandeira tarifária: a bandeira de escassez hídrica, que vai pesar na conta de luz do consumidor até, pelo menos, abril de 2022. A reação em cadeia é antiga conhecida dos brasileiros – energia mais cara, combustível mais caro, alimento mais caro – e seu elo mais fraco também é sempre o mesmo: a parcela da população mais pobre, já duramente atingida por um risco crescente de insegurança alimentar.

Em recente entrevista a jornalistas estrangeiros, o atual ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, ressaltou a conexão entre as crises hídrica e climática: “A crise hídrica não ocorre só no Brasil. Isso, evidentemente, é um processo de mudança climática. E temos que considerar que a crise hídrica não está generalizada no Brasil; ela está concentrada na região Centro-Oeste e no Sudeste, com 70% da capacidade de armazenamento”, disse o ministro, deixando evidente um dos aspectos que levam à desigualdade no abastecimento do país.

A natureza transfronteiriça – incontestável – dos impactos das mudanças climáticas nos induz a compreendê-los como um problema global, que, portanto, afeta a todos. O problema, no entanto, atinge de forma desproporcional indivíduos e grupos que já estão sujeitos a várias formas interseccionais de discriminação e/ou que são marginalizados em função de desigualdades estruturais. Frente a esse cenário, a 18a edição do Diálogos Futuro Sustentável convida a um painel de debate sobre o tema “Justiça climática e crise hídrica: reflexos da desigualdade em um cenário de escassez”.

Para a primeira fala, convidamos Theresa Williamson, editora da Rio on Watch, que abordará o aumento do preço e a insegurança no fornecimento da energia elétrica em um cenário de escassez a partir de aspectos de renda, raça, territórios e gênero. De que forma a crise hídrica atual acentua desigualdades e que alternativas podem ser desenhadas frente a esse cenário? O RioOnWatch é uma instituição social dedicada a documentar a visão dos moradores das favelas sobre e para políticas públicas, de modo a informar os tomadores de decisão municipais e profissionais de desenvolvimento internacional. Desde o seu lançamento, em maio de 2010, o RioOnWatch trabalha para aumentar a participação de jornalistas comunitários e observadores internacionais por meio de artigos e reportagens sobre as transformações do Rio, estabelecendo um diálogo com a grande imprensa e a imprensa alternativa para a construção de uma visão mais precisa das favelas, das suas contribuições à cidade e de suas perspectivas.

Ofertando a perspectiva da segurança alimentar frente à crise, convidamos Luana de Brito, representante da Rede de Mulheres Negras para Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (RedeSSAN), numa articulação que busca a garantia do direito à soberania alimentar e à alimentação adequada da população negra – e em especial da mulher negra. Luana abordará aspectos de políticas públicas essenciais à garantia do direito humano à segurança alimentar que possam salvaguardar vulnerabilidades da população negra frente a um cenário de escassez de chuvas e consequentes impactos econômicos e agrícolas na produção de alimentos.

Para encerrar o evento, propomos a visão de Sebastian Helgenberger, líder de pesquisa do Institute for Advanced Sustainability Studies – IASS Potsdam. A fala irá abordar as duas frentes de ação da Alemanha no que tange à injustiça climática: suporte financeiro e logístico a iniciativas globais em favor do desenvolvimento sustentável; e, em nível doméstico, um robusto programa de transição de sua matriz energética rumo a fontes renováveis.

O IASS é uma instituição de pesquisa e consultoria que gera conhecimento para apoiar a transição para uma sociedade mais sustentável. A partir de estudos sobre os fundamentos naturais e ecológicos dos modos sustentáveis de vida, os projetos do IASS apresentam indicações de como os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS-ONU) podem ser alcançados dentro dos diferentes contextos políticos, econômicos e culturais das sociedades modernas. Como podemos garantir que as transições para sistemas de energia de baixo carbono sejam justas? Como podemos criar sistemas de mobilidade novos e sustentáveis?

SERVIÇO
● Dia 29 de setembro de 2021
● 10h30 – 12h (BRT)
● Acesso gratuito, exclusivamente via link.
● Será necessário preencher um formulário para acesso.

PALESTRANTES:

Sebastian Helgenberger | IASS Potsdam

No IASS, onde ingressou em 2014, Helgenberger lidera um grupo de estudo sobre as oportunidades sociais e econômicas trazidas pelas fontes de energia renováveis. Graduado em Ciências Ambientais, realizou seu mestrado sobre a influência da sustentabilidade em atores da ciência e da sociedade; e doutorado sobre o impacto do aquecimento global nas decisões de investimento de pequenas e médias empresas. Foi coordenador de pesquisa científica no Centro BOKU para Mudança Global e Sustentabilidade; presidiu o Grupo de Trabalho Internacional JPI CLIMATE de financiadores de pesquisa e especialistas em transformação social em face das mudanças climáticas; e coordenou o desenvolvimento organizacional do Centro de Mudanças Climáticas da Áustria.

Theresa Williamson | RioOnWatch

Bacharel em Antropologia Biológica pelo Swarthmore College e Ph.D. em Planejamento Urbano e Regional pela Universidade da Pensilvânia. Fundadora e diretora-executiva da Comunidades Catalisadoras (ComCat), uma ONG que trabalha desde 2000 desenvolvendo redes, capacitação, comunicação e advocacy em apoio às favelas do Rio. Coordenadora da Rede Favela Sustentável, Painel Unificador Covid-19 nas Favelas e Projeto Termo Territorial Coletivo. Recebeu o Prêmio Internacional NAHRO John D. Lange por sua contribuição ao debate sobre habitação (2012), e o Prêmio Gill-Chin Lim de Melhor Dissertação sobre Planejamento Internacional (2005).

Luana de Brito | Rede de Mulheres Negras para Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional

Integrante da Articulação de Organização de Mulheres Negras Brasileiras e membro do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional de Santa Catarina. Graduanda em Ciências Sociais pela UFSC e integrante do Grupo de Pesquisa sobre Movimentos Sociais da universidade. Integrante do Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional.

MODERAÇÃO

Amanda Ohara | Instituto Clima e Sociedade

Mestre em Planejamento Energético pela COPPE/UFRJ e graduada em engenheira química pela UNICAMP. Atua há 15 anos no setor energético brasileiro. Foi coordenadora técnica do Instituto E + Transição Energética, atuou como coordenadora e consultora na Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ) e em funções técnicas e de coordenação na Petrobras. Atualmente, Amanda é consultora do portfólio de Energia do iCS.


Caso tenha outras questões ou em caso de dúvidas, você pode contatar a COLAB208, responsável pela organização e facilitação deste evento a partir dos seguintes contatos: contato@colab208.com.br ou pelo whatsapp +55 21 92000-3400.