Eco Rede CDD dá Aula de Educação Socioambiental no 4º Intercâmbio da Rede Favela Sustentável
A Rede Favela Sustentável (RFS) é um projeto da Comunidades Catalisadoras (ComCat) desenhado para construir redes de solidariedade, dar visibilidade, e desenvolver ações conjuntas que apoiem a expansão de iniciativas comunitárias que fortalecem a sustentabilidade ambiental e a resiliência social em favelas de toda a região metropolitana do Rio de Janeiro. O projeto começou em 2012 com a produção do filme Favela como Modelo Sustentável, tendo continuidade em 2017, quando foram mapeadas 111 iniciativas sustentáveis e foi publicado um relatório final que analisa os resultados.
Em 2018 o projeto realizou uma série de intercâmbios entre oito das mais duradouras e estabelecidas iniciativas que foram mapeadas na Rede Favela Sustentável (uma delas é o tema desta matéria), e em seguida foi realizado, no dia 10 de novembro, um dia inteiro de intercâmbio com toda a Rede Favela Sustentável. As oito iniciativas participantes dos intercâmbios, em campo, apresentadas nesta série incluem seis iniciativas comunitárias, sendo elas: a Cooperativa Vale Encantado no Alto da Boa Vista, o Ecco Vida em Honório Gurgel, o Verdejar no Engenho da Rainha e Complexo do Alemão, o Quilombo do Camorim em Jacarepaguá, o ReciclAção no Morro dos Prazeres, e a Eco Rede do Alfazendo na Cidade de Deus. Além disso, os integrantes dos intercâmbios visitaram duas iniciativas com foco além das favelas, com vasta experiência em sustentabilidade, sendo elas: a Onda Verde em Nova Iguaçu e o Ecomuseu de Sepetiba. Os intercâmbios têm apoio da Fundação Heinrich Böll Brasil.
Assista ao vídeo que acompanha os intercâmbios apresentados nesta série clicando aqui.
A Tarde do Quarto Intercâmbio: Eco Rede do Alfazendo
A Zona Oeste do Rio de Janeiro compreende aproximadamente 70% da área da cidade, resultando em uma grande variedade de bairros—da Barra da Tijuca, em rápida expansão, ao densamente povoado Campo Grande, localizado a três horas de distância do Centro do Rio por transporte público. Durante o quarto intercâmbio da Rede Favela Sustentável, os participantes testemunharam essa diversidade claramente, começando o dia na floresta urbana ao redor do Quilombo do Camorim e concluindo na Cidade de Deus—favela conhecida por uma série de problemas oriundos de investimentos públicos inadequados, mas também por sua poderosa rede de instituições locais comprometida em confrontar esses obstáculos.
Juventude da Favela Brilha no Festival da Cidade de Deus
Após a visita matinal ao Quilombo do Camorim, o quarto intercâmbio da RFS foi concluído no Festival Juventude na Favela, realizado na Escola Municipal Alphonsus de Guimarães, na Cidade de Deus, onde a organização anfitriã da visita, o Alfazendo, trabalhou intensamente com outros parceiros em um dia de apresentações, oficinas, grupos de conversação e outras atividades. O grupo da RFS chegou a tempo de assistir a uma apresentação do AIACOM, um grupo de dança africana composto por jovens; ver as exposições com criações de artistas da Cidade de Deus; e visitar a “Tenda Identidade”, que ofereceu oficinas de trança e penteados africanos.
Um aspecto fundamental do modelo da iniciativa é seu foco na educação socioambiental—que entrelaça aos ensinamentos de educação ambiental questões sociais e de raça—concentrando-se na formação de jovens—que Iara chama de “o futuro”—para servir como educadores socioambientais. Ao assistir, no festival, jovens de todas as idades participando de apresentações artísticas, atividades culturais e conversas sobre o potencial de sua comunidade, fica visível que o impacto dessa metodologia floresceu.
Mobilização para Apoiar o Desenvolvimento Local
Na semana seguinte, Iara falou mais sobre a história e a missão da organização durante o extenso intercâmbio final da RFS no Ecomuseu de Sepetiba. Nascida e criada na Cidade de Deus, Iara fundou o Alfazendo em 1998 como uma rede inspirada nas metodologias de libertação do renomado teórico social e educador Paulo Freire. Anos depois, aplicou estes métodos pedagógicos do Alfazendo para enfrentar os desafios socioambientais da comunidade, lançando o Eco Rede em 2010. “A gente [estava] incomodado, porque a gente olhava de uma ponte que temos na Cidade de Deus, e a Barra estava cada vez mais próxima—e a gente não tinha nenhuma política pública que de fato melhorasse a qualidade de vida dos moradores”, disse ela aos integrantes da RFS.
Como Iara explicou, a Cidade de Deus é composta por 57 pequenas favelas divididas em 14 áreas diferentes. Para atender efetivamente essa complexidade, Alfazendo e outros parceiros locais se propuseram a criar um Plano de Desenvolvimento Local (PDL) que incluísse “nove áreas temáticas para que as instituições na Cidade de Deus briguem por política pública para a Cidade de Deus”. Iara enfatizou a importância de trabalhar em conjunto, em rede: “O Alfazendo sozinho não faz nada. Então se a gente não faz nada sozinho, a gente precisa das escolas, a gente precisa do morador, a gente precisa das instituições de base, do jovem qualificado, para brigar e disputar poder. Então é isso que a gente faz: nós somos um grupo de formação”.
O processo de mapeamento e o Plano de Desenvolvimento Local ajudaram o grupo a determinar necessidades e reconhecer referências importantes dentro da comunidade. “Se a gente não tem desenvolvimento local, se as pessoas não tiverem uma identidade com o local, a gente não faz um movimento local”, afirmou Iara. A criação do PDL incluiu as perguntas: “Quem pode contribuir? Apoiar? Quem tem um projeto ligado? Em qual instituição podemos contar, ou não?”, disse Iara. A partir daí, o Alfazendo decidiu trabalhar com professores para apoiar a educação socioambiental nas escolas locais, e organizar atividades relacionadas, como o desenvolvimento de hortas comunitárias, e criar um sistema de apoio e treinamento para os catadores de materiais recicláveis da comunidade.
“Lutando por Este Território” Através da Educação Socioambiental
O Eco Rede, que Iara descreve como “uma tecnologia social para apoiar o desenvolvimento socioambiental”, complementa o currículo de aula em 28 escolas locais. O Eco Rede enfatiza a educação ambiental que aborda a realidade dos alunos, adaptando as aulas com base nas necessidades locais e incluindo discussões sobre questões sociais relacionadas a raça e gênero.
Iara compartilhou dados de atividades realizadas pelo Eco Rede nos últimos seis anos: de 2011 a 2017, a iniciativa deu 316 horas de treinamento para catadores de materiais recicláveis, 1.666 diferentes oficinas e 1.916 horas de atividades educacionais, juntamente com 350 professores participantes.
“Cada vez que a gente coloca um jovem na universidade, cada vez que a gente coloca um jovem terminando o ensino médio, a gente está brigando pelo território”, disse Iara. Ao mesmo tempo, ela enfatizou que “não existe uma solução individual”, conectando a importância das redes intra-comunitárias com a necessidade de redes entre comunidades, como a Rede Favela Sustentável.
Leia sobre todos os intercâmbios da Rede Favela Sustentável 2018 aqui.