Nota de Repúdio da Comunidades Catalisadoras sobre o Assassinato de Marielle Franco

“Favela não é problema. Favela é cidade. Favela é solução.” Foram essas as palavras de Marielle Franco, vereadora, em um recente debate sobre remoções e urbanização de favelas. Mulher negra, bissexual, do Complexo da Maré, Marielle defendia constantemente as comunidades marginalizadas. Fazia uma crítica mordaz da desigualdade sistêmica, era comprometida com a mobilização pacífica e coletiva e tinha habilidade para reconhecer e inspirar o potencial dos outros. Ela quebrava paradigmas e fazia com que outros se sentissem capazes de fazer o mesmo. Ela tinha muita luz e se tornou um símbolo, afirmando a mulher, negra e favelada, como fonte de admiração, de coragem.​

Marielle foi assassinada há uma semana, na noite de 14 de março de 2018. Quem fez o que fez não devia ter noção da grandeza dela. Ela saiu da vida e entrou para a história. Nós, a equipe da Comunidades Catalisadoras, nos juntamos a inúmeros outros ao condenarmos o assassinato de Marielle e do motorista Anderson Pedro Gomes. Nós demandamos que os responsáveis pelo ataque sejam levados à justiça, e demandamos o fim da violência e corrupção estrutural que criaram as condições para essa tragédia. Esse foi um ataque a todos que ela representa, figurativa e literalmente, e ao trabalho de todos os ativistas e defensores de direitos humanos que têm coragem de criticar os poderosos—como fez Marielle ao denunciar a violência policial, a violência de gênero e diversas outras injustiças.

Estamos de coração partido e em choque. Mas temos certeza que a morte da Marielle será um momento de virada. Temos certeza que todos que se inspiram pela luta dela continuarão comprometidos com seu trabalho para que, com o ecoar do grito “Marielle, presente!”, Marielle possa de fato seguir conosco. Com determinação, continuaremos a fazer avançar a posição da vereadora—defendida por nós ao longo dos últimos 18 anos—de que com todas as suas complexidades, as favelas são fonte de soluções, engenhosidade e transformação, e devem ser reconhecidas e tratadas como tal.

#MariellePresente

Marielle Franco nos Arquivos do RioOnWatch:

set/16 Candidatos de Favelas que Concorrem nas Eleições Estão Entre os ‘Vereadores Que Queremos’​ – Nour El-Youssef​

nov/16 Livro de Angela Davis Lançado no Mês da Consciência Negra com Debate sobre Raça, Classe e Feminismo no Brasil​ – Luisa Fenizola

“Espero que a gente possa construir juntas, a partir de ocupação de um espaço de representação de uma mulher negra que eu ocupo. Vamos enegrecer a Câmara, racializar o debate, contratar chefes de gabinetes negras e de favela. Eu não fiz nada na minha vida sozinha, tudo foi feito no coletivo e assim vai continuar sendo.” – Marielle Franco

jun/17 O Direito à Vida: Moradores Comemoram a Favela e Lutam por Seus Direitos​ – Bryan McNamara

“A gente não quer direitos sociais só quando pararem com essa guerra às drogas ou quando o tráfico terminar. Como cidadãos da cidade e como cidadãos da favela queremos a partir de hoje.” – Marielle Franco

nov/17 Debatedores Dissecam Plano Estratégico da Prefeitura de Crivella e Apontam Inúmeras Deficiências​ – Priscilla Mayrink

“No plano [do prefeito, a economia solidária] só aparece enquanto feira. No plano não aparece como alternativa econômica como geração de emprego, de renda, como expansão desse lugar metropolitano.” – Marielle Franco

nov/17 Debate Sobre Racismo e Resistência, e Rolezinho Ocupam Câmara Municipal​ – Sidney Magana

“Vamos ocupar a casa do povo com nossos corpos negros e debater sobre a resistência nos quilombos, nas favelas, no asfalto e no poder público!” – Página de Facebook do evento organizado por Marielle Franco

Em reconhecimento a essa tragédia e em celebração da sua luta, o boletim de notícias do RioOnWatch dessa semana foca exclusivamente em Marielle Franco.  Convidamos todos a lerem com calma e digerirem a edição especial do boletim Luto e Luta: O Assassinato e Legado de Marielle Franco. Esperamos que encontrem inspiração na vida de Marielle e que se juntem a nós no compromisso com seu legado.

O boletim inclui coberturas sensíveis e importantes sobre sua execução e seu legado, além de artigos dos arquivos do RioOnWatch sobre seu trabalho desde o anúncio de sua candidatura em 2016. Mesmo sendo poucos, nossos artigos refletem o dinamismo e amor que ela carregava em seu trabalho e a diversidade de causas que ela defendia.