ComCat/RioOnWatch Lança Campanha #StopFavelaStigma Contra a Estigmatização da Favela
12 de julho de 2016–A Comunidades Catalisadoras (ComCat), através do projeto RioOnWatch, está lançando uma campanha nas mídias sociais #StopFavelaStigma, que visa criar uma oportunidade para moradores de favelas opinarem e reagirem ao estigma que sofrem num momento em que o Rio de Janeiro ganha visibilidade mundial com as Olimpíadas. O estigma é a base de inúmeros atos de violência às favelas e seus moradores, desde as remoções forçadas–que dependem do estigma de que a favela não tem valor, as moradias não tem valor, da visão das favelas como temporárias e inadequadas–quanto a violência policial que é baseada no conceito da favela como inerentemente criminosa, o que é visto como justificação de ações truculentas.
Nós queremos mudar este padrão. Acreditamos que neste momento, com um público mundial voltado ao Rio, temos uma chance única de denunciar o estigma e comunicar as qualidades positivas das favelas.
Tendo em mente o sucesso da campanha #meuprimeiroassedio e #meuamigosecreto, lançamos as hashtags #MinhaFavelaÉ e #MinhaFavelaNãoÉ. Elas buscam possibilitar o formato de um Tweet ou um post de Facebook, tendo em comum o pronome possessivo, neste caso “minha”. Usar “minha favela” é fundamental porque garante que vai ser uma declaração pessoal de alguém que tem uma relação direta com favelas, convocando moradores que possam se expressar com as palavras “minha” e “favela”, e com o “é” no final, abrindo espaço para depoimentos sobre o que é a favela para seus moradores.
A hashtag #MinhaFavelaÉ oferece uma plataforma para expressar verdades e sentimentos pouco representados sobre favelas devido ao estigma.
A hashtag #MinhaFavelaNãoÉ oferece uma plataforma para criticar a visão generalizada e denunciar o estigma diretamente, e também falar do que se falta nas comunidades, em termos de investimento público, aspectos internos, ou visão acolhedora da sociedade, etc.
A hashtag #MinhaFavelaEra oferece uma plataforma para falar de sua comunidade no passado, em casos de comunidades removidas durante o processo pré-olímpico.
Em seguida, nós aproveitaremos a rede de jornalistas internacionais formada pelo RioOnWatch ao longo dos últimos seis anos para divulgar os resultados da campanha, retuitando os posts em inglês e unindo informações da campanha em inglês com a hashtag em inglês #StopFavelaStigma – pare com o estigma da favela.
Também estamos compilando conteúdo de apoio para a campanha, que possamos divulgar em conjunto – dados, vídeos, fotos, matérias – que possam seguir os pronunciamentos diretos dos moradores integrantes da campanha quando o RioOnWatch divulga os resultados e faz sinópses do movimento da campanha.
História da Campanha
A ideia da campanha surgiu quando, ha dois anos, presenciamos uma troca surreal e triste no Facebook. Resolvemos anotar os estigmas que encontramos naquela troca, pois sentimos que seria fundamental lançarmos uma campanha de resposta que visasse enfrentar o estigma diretamente e reverter este quadro contra-producente e assustador. Queremos uma sociedade que reconhece as qualidades em todos e todas, uma sociedade baseada na compaixão com visão acolhedora, e para isso é fundamental perceber o papel fundamental da favela na história do Brasil e basear políticas públicas producentes nas qualidades da favela.
Como ponto de partida para a reflexão e para perceberemos coletivamente a gravidade do estigma que faz “da favela” um alvo, como se todas fossem iguais e como houvessem só problemas sem inúmeras qualidades, publicamos a lista desta troca* marcante aqui:
- Todo mundo odeia as favelas
- Favelas não são comunidades
- Favelas são zonas proibidas sem leis
- Favelas são imundas
- Favelas são violentas
- Favelas são perigosas
- Favelas são caóticas
- Favelas são insalubres
- Favelas são mal construídas
- Favelas são subdesenvolvidas
- Favelas não são a norma
- Favelados são maus
- Favelados são feios
- Favelados são preguiçosos
- Favelados são desempregados
- Favelados são pobres
- Favelados não tem educação
- Favelados são infelizes
- Favelados são traficantes
- Favelados são criminosos
- Favelados se fazem de vítima
- Favelados moram em condições desumanas
- Favelados são felizes vivendo sem nada
- Ninguém gostaria de morar na favela
- Uma barraca na favela não é um bom lugar para uma criança crescer
- Quem mora em favela preferiria morar em outro lugar
Acreditamos que neste momento quando podemos alcançar um público mundial que não é comprometido em ver a favela como bode-espitatório, como quem é condicionado na sociedade carioca pode ser, temos uma chance única de denunciar o estigma e representar a positividade nas favelas. Trabalhando o estigma, mexendo nele, podemos tanto catalisar mudanças no empoderamento de moradores de favela quanto também nas políticas públicas.
Acreditamos que as vozes em primeira pessoa de moradores de favelas espalhadas nas redes sociais, e centralizadas através de uma divulgação na mídia global, poderiam empoderar moradores a não ver suas comunidades pela lente do estigma, e também pessoas de fora a repensarem suas lentes preconceituosas e seus impactos prejudiciais.
Sem mexer no estigma não teremos políticas públicas participativas e adequadas, pois as políticas sempre terão como base o preconceito e nunca levarão em conta as qualidades das favelas que precisam ser reconhecidas e fortalecidas.
Nosso Convite
A campanha consiste em três partes:
- Chamada por matérias por mobilizadores, lideranças e comunicadores comunitários refletindo sobre o estigma da favela.
- Campanha de hashtag convidando o público das favelas a refletirem coletivamente sobre suas comunidades visando enfrentar os estigmas sobre a favela diretamente.
- Divulgação internacional em inglês destes relatos através da rede do RioOnWatch, portal de notícias que desde 2010 vem documentando as lutas e qualidades das favelas cariocas.
Com isso, convidamos todos e todas que moram ou já moraram em favelas a opinarem e darem seus depoimentos públicos no Facebook e Twitter usando as hashtags #MinhaFavelaÉ, #MinhaFavelaNãoÉ ou #MinhaFavelaEra. Tendo espaço por favor inclua também o #StopFavelaStigma. Contando com as hashtags, poderemos encontrar o seu depoimento e divulgá-lo em inglês, também.
*Nosso objetivo não é criar mais ódio no mundo, e com isso não divulgaremos a troca no Facebook que serviu como fonte destas colocações. Elas servem aqui para nos chamar a atenção para o peso do estigma, as características associadas ao estigma e como ponto de partida para uma resposta pública ao estigma.