Nota Pública de Integrantes da Rede Favela Sustentável Contra a Chacina no Jacarezinho

10 de maio de 2021A notícia da chacina no Jacarezinho não nos chega como uma surpresa. Vemos este resultado de 28 mortos na manhã e tarde do dia 6 de maio de 2021 como a consequência de uma política de estado nefasta, que não reconhece os direitos e a humanidade de alguns grupos em relação a outros.

A operação policial realizada foi a mais letal já praticada pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro até então. A morte esteve em visita à favela do Jacarezinho nas vésperas do Dia das Mães. Mais terror e mais dor foram impingidas à população carioca, além de toda a tragédia social já representada pela pandemia da Covid-19.

Um ataque à vida com tal proporção, se não for observado agora e refreado, soará como um grito de permissão dada por todo o conjunto da sociedade para que se mate mais, para que se ataque mais, para que se ofenda mais os jovens periféricos, os pretos, os pobres, os favelados. Será como certificar que a dor de alguns é menor e desprezível.

A história desta cidade não pode ser sublinhada por episódios recorrentes de violência policial. Não é cabível que a polícia atue aprimorando sua eficiência e, a cada operação, consiga matar mais. A Chacina do Jacarezinho não pode ser copiada, repetida ou amplificada em novas incursões policiais.

Estamos no Rio de Janeiro e não há nada de maravilhoso na agonia da morte, nos muros lavados por sangue, nos corpos vilipendiados, ou na lamentação de mulheres e mães indignadas em sua dor.

Não nos alinhamos à covardia, nem aceitamos entre nós a ação de carrascos. Isso tem que parar. Ao Estado incumbe e entronca o dever de proteção e acolhimento a todos que se encontram em risco social. Não pode ser o Estado o que ataca e ofende os mais frágeis.

Nós, integrantes e apoiadores da Rede Favela Sustentável, nos solidarizamos com cada uma das vítimas deste episódio. Reconhecemos o impacto que tantas mortes acarretam a cada um e a todos no Jacarezinho.

A missão da Rede Favela Sustentável é realizar o potencial das favelas como comunidades sustentáveis, através de uma rede de troca de conhecimento, apoio mútuo e desenvolvimento de ações conjuntas entre iniciativas comunitárias de sustentabilidade ambiental e resiliência social e aliados técnicos. Como realizar essa missão—e como é que as favelas podem realizar seu potencial—no contexto de medo e luto constante que a violência de Estado perpetua?

Em respeito à vida, exigimos a averiguação da responsabilidade por este desastre humanitário ocorrido na cidade. A identidade social dos cariocas não pode ser definida como aquela que consente ou se regozija na chacina das minorias.

O lugar de se viver não pode ser o lugar de se experimentar terrores insondáveis.

Assinam:

Organizações

ABIA – Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS
A.M.I.G.A.S – Associação de Mulheres de Itaguaí Guerreiras e Articuladoras Sociais
Ação da Cidadania
AMPLA – Associação de Moradores do Parque Ludolf e Adjacências
Associação Comunitária Luis Carlos Prestes
Associação da Diversidade em Direitos Humanos (ADDH-RJ)
CEM – Centro de Integração na Serra da Misericórdia
ComCat – Comunidades Catalisadoras
Defensores do Planeta
Favelação – Movimento Solidário nas Favelas e Periferias
FAVELAR
FOAERJ – Fórum de ONGS/AIDS do Estado do Rio de Janeiro
Grupo Assistencial SOS VIDA
Movimento Moleque

Indivíduos
Ana Leila Gonçalves
Anatula Da Silva
Anna Paula De Albuquerque Sales
Beatriz Cordeiro Carvalho
Carlos Alberto Costa Bezerra Bezerra
Clara Ferraz
Claudio Rocha
Danielle Hermann
Fábio Marciano De Moraes
Fernanda Miguel De Melo
Francisco Adalton
Gelson Damas
João Pedro Rocha
José Fernando Silva
Julio Rodrigues
Júlio César De Freixo Lobo
Natalia Urbina
Patricia Camargo Daly
Renato Dantas
Roberto Ferreira
Rodrigo Silva

Para adicionar seu nome à nota, preencha este formulário.