Depois de 15 anos visitando semanalmente diversas favelas do Rio de Janeiro, eu ainda fico maravilhada com a adaptação criativa do ambiente construído que os moradores de favelas estabelecem com o passar do tempo. “Favela” é muitas vezes traduzido para o inglês como “slum” (i.e. miseráveis), “shantytowns” (i.e. feitos de materiais de construção precários), “squatter communities” (i.e. ilegais) ou “guetos” (i.e. marginais), quando na realidade hoje em dia só uma minoria das situações em comunidades de favelas no Rio de Janeiro se caracterizam por esses fatores.
Por um lado, vamos ter a noção de que as casas nas favelas são barracos precários. Porém, de acordo com uma pesquisa recente em 6 comunidades, 95% das moradias nas favelas foram construídas com tijolos, cimento e aço reforçado. 75% têm pisos de cerâmica. Moradores investem décadas de renda e trabalho manual na construção e consolidação de suas casas. Dê uma olhada para dentro e não verá somente os serviços básico de eletricidade, água corrente e canalização, mas também uma televisão de tela grande, e, em mais de 44% dos casos, um computador.
Na realidade, a caracterização que une todas as favelas é muito simples. Favelas são:
Imagine a incrível diversidade de bairros que esta receita tem criado em mais de 115 anos de assentamentos urbanos informais no Rio de Janeiro. Hoje em dia há mais de 1000 favelas no Rio. Elas variam de comunidades mais novas e desafiadoras em condições bastante precárias e com desejo de reassentamento, até bairros altamente funcionais e vibrantes determinados a manter suas qualidades e continuar se desenvolvendo nas suas próprias maneiras extraordinárias. Dê uma volta por uma favela em dois dias diferentes e terá uma experiência completamente única cada vez, isso se dando ainda mais se for em comunidades diferentes. E é por isso que as favelas do Rio são estufas culturais incomparáveis que têm o potencial de transformar o Rio de Janeiro numa meca cultural, caso seu legado seja apreciado e seu futuro desenvolvimento nutrido através de empoderamento, planejamento participativo e provisões que garantam preços acessíveis.
Um número de qualidades do ambiente construído nas favelas chamou a atenção de urbanistas internacionais, arquitetos e especialistas em sustentabilidade nos últimos anos. Favelas são lugares de:
Há uma eficiência incrível criada através do desenvolvimento ao estilo das favelas. Porque as vizinhanças são de alta densidade e prédios baixos, isso encoraja a troca em vez da isolação através de unidades verticais, e por causa de recursos financeiros limitados, os moradores historicamente têm trabalhado juntos para garantir tudo, de creches até moradias. Os investimentos não-financeiros na forma de troca e suporte mútuo entre moradores é tão importante, se não mais, na garantia de resultados positivos para as comunidades quanto investimentos financeiros na forma de renda. Como um morador da Providência diz, “Não há mendigos na favela”.
Além das características acima mencionadas, as favelas se desenvolveram por estarem localizadas em áreas de empregos, pelo conhecimento de construção dos moradores (muitos são trabalhadores de obras com experiência na construção civil), pelas numerosas vitórias legais ao longo dos anos reconhecendo o usucapião e os direitos dos ocupantes, assim como o fornecimento de serviços de utilidade pública tal como eletricidade e água, que, embora seja abaixo do padrão, hoje em dia é disponível para casas individuais na maioria das favelas.
Embora as qualidades das favelas aqui descritas raramente sejam reconhecidas, vamos celebrar, que numa perspectiva urbanista, favelas não são somente uma enorme conquista, mas também uma fonte de inspiração, apresentando soluções para o desenvolvimento urbano sustentável com o qual podemos e devemos aprender.
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